Olá,

Seja muito bem vindo (a) !

São textos simples, mas saídos da emoção...

Quero muito saber sua opinião - compartilhe comigo e com os outros.

Um grande e caloroso abraço

Simone,


A luz que brilha nos meus olhos vem da minha mente, fervilhante de idéias, pensamentos, sonhos...através de meus dedos e mãos trago vida a esse turbilhão, colocando em palavras o que insiste em gritar dentro de mim...

Cada movimento das árvores bailando ao vento traz encanto e paz ao meu ser; cada pássaro que ouço da minha janela traz música à minha alma...Assim sou eu, dando valor a cada pequena coisa, tornando-a valiosa e importante!



Simone































sexta-feira, 30 de novembro de 2018

A Estranha

Um dia, você acorda, e lá está ela. Na sua frente. Olhando você do espelho. Na véspera, à noite, quando foi se deitar, olhou no espelho e SE viu refletida...
Hoje, de repente, sem aviso, sem mudanças graduais, ela surge olhando fixo pra você. E tudo que você vê, ali refletido, é o rosto da sua mãe e das suas tias no ocaso de suas vidas.
Até ontem você viveu com a pessoa que conheceu por toda sua vida ! Aquela mulher com cabeça, disposição, energia de 40 anos - embora tivesse bem mais.... essa era a mulher que você conhecia. A mulher que conhecia você, suas dores, alegrias, a violência e o abuso que permearam sua vida desde sempre. Era a mulher que farejava a inveja das pessoas. Que "ouvia" os guizos das serpentes traiçoeiras se aproximando. A mulher que sobreviveu às agressões domésticas, físicas e verbais... você sabia como ela ia reagir nas variadas situações. E agora....está ali uma estranha, sua "disposição de 40 anos" sumiu durante a noite e você se vê perdida, olhando sem entender como tudo mudou, literalmente, de ontem pra hoje ?
Quem é essa mulher que insiste em olhar pra ela de forma estranha? Parece que ela tampouco conhece você. Nada sabem uma da outra, no entanto, você tem certeza que, de agora em diante, vão começar essa nova convivência....
Como será? Você fica parada na frente do espelho, tentando resgatar algo da mulher de 40, mas tudo que recebe é a imagem da sua mãe, no ocaso da vida, uns 3 anos antes de morrer.
Como aconteceu tão rápido? QUANDO aconteceu ? Ou melhor, quando COMEÇOU A acontecer ? Você percebeu hoje. Mas ontem, você já não teria mudado em algo ?
A mulher de 40 ficou pra trás . Mas as suas vivências permanecem com você. E o pior...mais refinada fica sua paciência, mais alerta fica seu radar, e os guizos das serpentes não incomodam mais porque agora você vive em outro plano. Um plano que só se conhece quando a "sua mulher de 40" desaparecer.
Viva com a estranha. Ela tem muito a ensinar e pouco tempo pra isso. Mergulhe nas alegrias e nas tristezas -essas bem maiores... não se iluda com "amores familiares"...eles existem em concordância com o dinheiro. Mas não se aborreça com isso....porque em breve não vão lembrar de você, como, aos poucos, foram se dissolvendo as lembranças dos que já foram. Diga bom dia à essa estranha. Todos os dias. Ela é a única que vai lhe desejar um BOM DIA sinceramente....

terça-feira, 12 de abril de 2016

EU SOU

Sou do sol, sou da lua, das estrelas, do firmamento infinito.
Do Universo com seus mistérios, meteoros, nuvens, raios, trovões,
Sou da água do mar, dos lagos, dos rios, cachoeiras, corredeiras, cataratas, córregos minguados, rios bravios, pororocas, ondas gigantescas no mar imenso.
Sou da terra morna, ardente, fértil, plantada, frutificando, da terra agreste, seca, árida, das areias dos desertos escaldantes.
Sou do fogo manso que arde embaixo da chaleira, do fogo esbravejante que se lança de um vulcão, de um fogo que ilumina cavernas,
Sou das dúvidas, certezas, dores lancinantes, alegrias exuberantes, lágrima solitária, choro convulsivo, comédias escrachadas, dramas dilacerantes, gargalhadas dobradas,
Sou de coração ardente, apaixonado, explodindo de paixão, de coração frio como gelo ante uma traição.
Sou raivosa, generosa, coerente, cheia de dúvidas, atirada, apressada, lenta como uma brisa de final de tarde deitada na rede.
Sou tudo isso - mas isso tudo é só um pouco de mim. 
Porque sou muito mais, para o bem ou para o mal, para o certo ou incerto.
Sou eu aprendendo a cada dia a me conhecer, sabendo que, cada vez, me desconheço mais.
Simone de Faria

terça-feira, 18 de março de 2014

A Estrada



ESTRADA

“Uma estrada liga um lugar chamado Indiferença a outro chamado Afastamento.
Estrada sombria, permanentemente  cheia de nuvens pesadas. Nem a chuva visita essa estrada – as nuvens permanecem lá em cima, apenas encobrindo o sol, mantendo tudo cinza.
Estrada solitária, que é percorrida, de vez em quando, por pessoas solitárias, soturnas. A tristeza margeia essa estrada – nada de árvores, pássaros cantando ao seu redor... Restos de árvores, sem folhas, mostrando que nada de bonito ali floresce.
Quem sai desse lugar tristonho, chamado Indiferença só encontra essa estrada para caminhar... e é estreita, tortuosa, cheia de altos e baixos... Repousar, somente nas laterais, mas o chão é áspero, frio, assim como o vento que sopra todo o tempo...
O caminhante, apesar da desolação, continua em seu caminho – sabendo exatamente que, ao final, entrará em Afastamento. 

Algumas vezes esse caminhante reconhece, em Afastamento, algo de familiar – uma sensação de já ter estado por ali... e talvez tenha estado, mesmo... afinal, ali só se chega por essa estrada... então, quem sai de Indiferença sempre vai chegar, pela estrada cinza, a Afastamento.
Lugar estranho – uma grande praça, somente – larga demais que deve ser cruzada a passos lentos, para não se cansar e recuperar o fôlego roubado pela estrada. Porque a respiração fica difícil, ao longo dessa estrada.
Apertos no coração, angústia, solidão invadem o caminhante durante todo o percurso. 

Só lhe resta pensar em tudo que deixou em Indiferença. Mas isso requer esforço, também, porque ninguém consegue explicar – nem o caminhante se lembra – como chegou a esse local, Indiferença.
O que sabe é que, um dia, resolveu dar o primeiro passo em direção a Afastamento, mesmo sabendo da estrada soturna, cheia de nuvens cinza.
Afastamento é um lugar estranho... o caminhante tenta olhar para o outro lado da praça – em sua imensidão, seus olhos se perdem, como se estivesse diante de um grande oceano...
Como já esteve em Afastamento antes , sabe que deve caminhar, caminhar muito, sentando pra descansar, de vez em quando. Muitos dias passarão, nesse caminhar.
No princípio, por um bom trecho, na verdade, Afastamento é coberto pelas nuvens da estrada, o mesmo vento frio sopra, entrando nos ossos, trazendo arrepios... outros caminhantes também passam...mas o silêncio é quase palpável... nada se ouve, nenhum suspiro, sequer um gemido...
Como uma grande conformação coletiva, passam sem olhar um para outro – os vários caminhantes – cada um olha para seu próprio interior, como se buscasse respostas a perguntas que insistem em gritar em sua cabeça, em seu coração...
E vagam por ali, a cada vez tentando ir se aproximando daquele ainda não visível outro lado da gigantesca praça...

Mas, embora não visível, caminham, porque sabem que lá, bem longe, está uma outra estrada, que sai de Afastamento e conduz a outro lugar, chamado Amor-Próprio...”
Simone de Faria

terça-feira, 17 de setembro de 2013


EU QUERIA UM ABRAÇO

“Eu queria um abraço apertado,

Desses que tiram o fôlego e deixam sufocado

Abraço de corpo encostado,

Todinho colado

Rosto apertado

Pescoço suspirado

Beijo molhado

Mão correndo pelo corpo amado

Abraço despudorado,

Desavergonhado

Que deixa o outro extasiado.

Corpo suado

Língua correndo no lábio escancarado

Prenúncio de algo desvairado

Que começa no abraço apertado

E termina no êxtase pleno, totalizado.

Eu queria....”

Simone de Faria

sexta-feira, 22 de março de 2013


REVELAÇÕES


O ônibus avançava, lentamente, pelo caminho. O balanço que provocava sempre fazia a mulher ficar sonolenta. Não hoje. Hoje ela olhava o marido sentado ao seu lado, segurando uma revista, olhava a paisagem  ao redor – tudo tão conhecido, tão familiar, no entanto tudo hoje era novo. Hoje. Ela era outra mulher.

Havia uma desconhecida que gritava dentro dela. Uma desconhecida que tinha seus braços, pernas, cabelo, roupas, mas cujos sentimentos e emoções ela desconhecia. Havia uma desconhecida dentro dela que sentia raiva, nojo, decepção até então emoções desconhecidas para ela. Não mais. Não hoje.

A verdade, até então oculta, dissimulada, encoberta, em um segundo surgiu diante dos seus olhos, chicoteando seu rosto, derrubando tudo que, até então, ela acreditava. Hoje ela conheceu o medo, a vergonha, a raiva. Coisas feias que cresciam dentro dela e transtornavam seu interior.

A mulher que passou a habitar nela uivava de raiva, se dilacerava de horror, rasgava suas entranhas, com suas unhas invisíveis mas que destruíam tanto como se verdadeiras fossem.

Aquele ser desconhecido – que até então fora seu marido, seu homem – tornou-se objeto de nojo, de repugnância ao seu lado. Hoje ela viu a verdade sobre ele. Hoje todos os véus desabaram – todos os artifícios que ele usara, até então, desde o princípio, desmontaram na frente dela – somente dela. E o nojo por ele se instalou em seu interior, junto com a raiva.

A mulher lembrou como ela e aquele ser abjeto se conheceram, casaram e começaram a construir uma vida. Lembrou como ele era, no princípio – amoroso, cuidadoso, risonho. A vida era risonha e rósea.

Hoje não. Hoje o verdadeiro ser apareceu diante de seus olhos. Mas ele de nada sabia. Não sabia que seus véus tinham desaparecido, não sabia que seus segredos evaporaram como fumaça, expostos perante os olhos dela – olhos de horror, de nojo. A mulher dentro dela berrava se dilacerando – uma mulher nova que a fazia outra, sabendo agora o que era ter raiva, rancor, ódio. A mulher olhava aquele homem, sentado a seu lado, e tinha impulsos de jogar na cara dele todo nojo, todo horror, toda repugnância que sentia.

Hoje ela passou a conhecer, através dessa nova mulher na qual ela se transformou, o que é ter desprezo, ter vontade de esmagar alguém como se esmaga a cabeça de uma serpente. Porque ele nada mais era que uma serpente peçonhenta que se alimentou todo esse tempo da sinceridade dela, do amor que ela sentia, pela primeira vez na vida.

Hoje, caminhando a esmo, num beco deserto, toda a verdade foi jogada na cara dela. Seu marido, seu homem e Davi. Escondidos de todos ela ouviu Davi dizendo ser amante do corpo dele e o viu beijando apaixonadamente a boca de Davi.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

PARA TI, AMOR.


Segura minha mão na tua, me abraça forte e me acalenta com doces canções de amor.

Teu sorriso, teu sopro, teu roçar suave em meu pescoço fazem minha alma dançar, cantar. O dia se torna mais brilhante, o sol mais luminoso, o céu mais azul.

As folhas das árvores balançam no compasso dos teus abraços, enquanto fecho meus olhos e me deixo levar pelo encantamento de teu sussurro em meus ouvidos, falando palavras de amor.

Meu corpo anseia pelo teu, nos momentos de separação e se alegra a cada reencontro. Teus beijos, suaves ou selvagens, aquecem minhas emoções, transformando brisa doce em vendaval, turbilhão de emoções.
Simplesmente porque existes em minha vida.

SURPRESAS


A vida, como uma grande encantadora de emoções, sempre nos surpreende, a cada dia. Felizes os que, como eu, estão abertos a essas surpresas.

Não quero dizer que são todas surpresas agradáveis - a maioria nem é, mas se nos desencantarmos com as ruins, vamos nos fechar para as boas novas que o cotidiano pode nos trazer.

Tristezas e decepções fazem parte da vida, mas fazer delas o ponto forte de uma vida, além de desgastante, nada acrescenta ao ser humano.

Da vida ( e com ela ) aprendi muito - o tempo não volta, nossos erros devem servir como degraus para crescimento interior. Saudade só é bom quando vem envolta em alegria. Lembrar de fracassos e erros somente se for para não repetir.

A cada manhã tento me renovar - nem sempre consigo, é verdade, mas a mera tentativa me mantém fresca para O NOVO. Que poderá chegar, ou não.

Um novo amor, um novo trabalho, uma nova amizade, um sorriso de um desconhecido na rua - tudo isso tem o dom de aquecer um coração, ainda que por breves momentos. mas é disso que a vida é feita - momentos. Cabe a nós torná-los mais ou menos duradouros, mais ou menos intensos.

Mergulhar, sem medo, no novo, dar-nos a possibilidade de experimentar. Tudo isso nos mantém vivos e, enquanto vivos, vamos nos renovando.

Que venham mais e mais surpresas - estou pronta para elas.

domingo, 16 de dezembro de 2012

MILAGRE



A geração que nasceu após a 2ª guerra mundial é, verdadeiramente, um milagre !! 
Senão vejamos: somos filhos de pais e mães que nasceram no início do século XX e netos e bisnetos de pessoas que nasceram ainda na época do Império. E digo que somos um “milagre” porque nossos antepassados viveram o suficiente para sermos gerados. Até aí, tudo bem. Então, onde está o milagre?
No fato de tanta gente ter vivido e, principalmente, sobrevivido sem desodorantes que têm ação por até 48 horas ( isso significa exatamente o quê ? que pode se passar 2 dias sem tomar banho ou que, mesmo com o banho, aquele produto mágico permanece no corpo ? ), sem filtro solar, sem celulares ( aliás nem telefones fixos existiam até determinada época), sem celulares com câmera, filmadora, internet, mil aplicativos, televisões gigantescas que ocupam, hoje, o lugar que, antes, era ocupado por bons quadros...
Como sobreviveram sem iougurtes que fazem os intestinos funcionarem como um relógio, como se divertiram sem as cervejas que descem redondas, que são a nº 1, sem transmissões ao vivo de qualquer evento de maior porte...
Nosso antepassados devem ter sido verdadeiros gigantes pra sobreviverem sem cartões de créditos que resolvem TODOS seus problemas em qualquer parte do planeta, sem os créditos bancários mirabolantes que permitem que se compre qualquer coisa, sem as liquidações e “queimas de estoque” que, se não aproveitadas, fazem com que os apáticos se sintam uns idiotas....
Isso sem falar, claro, da enxurrada de carros de último modelo, todos vendidos por “apenas” $$$$... e as coisas que fazem um “homem de verdade” ?? terno, gravata, prato frances ( ? ), sapato.... carro na garagem..... E aí me pergunto: quem não tem essas coisas, não é homem ?
As mulheres são assoladas por cremes anti rugas, anti celulite, uma imensidão de tinturas de cabelo, mil e um aparelhos que prometem perder centímetros, quilos num piscar de olhos...
Relembro nossas mães e avós com seus cachos naturais, lavando rosto com sabonetes comuns, aceitando, tranquilamente, os quilos ganhos com a idade. Lembro de nossos pais e avós ( nunca soube qual o plural de avô, portanto me desculpem... ) usando terno, gravata, sem o carro zero na garagem e que eram considerado HOMENS porque cumpriam com seus compromissos, muitas vezes selados com um aperto de mão ou um fiapo de bigode.
Foram heróis porque sobreviveram a toda essa escassez e nos geraram pra que, então, pudéssemos criar toda essa parafernália da qual nos tornamos escravos ! 
E somos NÓS o "milagre" ???
Simone de Faria

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012


LIDANDO COM A MORTE

 Ontem me perguntaram: “qual foi a primeira vez que você lidou com a morte?” – de imediato me lembrei da minha amiga, de 21 anos, como eu, que, num domingo estava no cinema e, na 4ª feira, estava morta. 
Foi a primeira vez que me deparei com a morte. Além da perda em si, a tragédia ainda crescia pela rapidez com que uma doença assintomática, tomou-a de assalto e levou-a, 5 meses antes de seu casamento. A dor foi acompanhada pela surpresa, pelo inesperado, como se agigantando na minha frente.
No entanto, passado o momento dessa primeira resposta, comecei a pensar que existem várias mortes em nossas vidas – físicas e emocionais. Somos obrigados a viver inúmeros lutos, em maior ou menor intensidade, mais longos ou breves. 
Mas o luto está presente em nossa vida, como nos mostrando a finitude. Através desses lutos, vamos nos fortalecendo, buscando escoras emocionais em nosso interior. Existem pessoas que se jogam nos lutos da morte física, mas ignoram ( ou pelo menos fingem ignorar ) as mortes emocionais. 
Repensando minha vida, vi que a primeira morte que enfrentei foi a perda dos meus “pais de infância”. Não que tenham morrido, fisicamente, mas as figuras que enxergava, até então, foram substituídas, pouco a pouco, por outras, já sob um olhar de início de adolescente.
Hoje consigo perceber que, naquele momento, tive, inconscientemente, a sensação do “vazio” -  inexplicável, então, mas tão visível para a mulher que me tornei. Não só lembro da “perda” em si, como dos sentimentos que me engolfaram, por longo tempo, sem que eu conseguisse dar a eles identidade, nome ou compreensão.
E mais uma vez, hoje, me deparo com a morte – dessa vez física – de uma das minhas gatas – Constança.
Caminhando pela rua, voltando para casa, pensava nesse lidar com a morte, após levá-la para ser cremada ( contra minha vontade, porque sempre coloquei meus ‘peludos’ em local onde eu pudesse voltar e visitá-los, mas hoje não foi possível ).
Sempre busquei um recolhimento, para viver meus lutos. Entendo que, como o nascimento, a morte é vivida solitariamente. Seja  a morte de um ser vivo, seja de um sentimento, de uma etapa de vida. Sempre procurei o recolhimento, o isolamento.
Não consigo transmitir com palavras ou gestos o que sinto. O vazio se instala e ali permanece por um longo tempo. 
Entendo que esses vazios fazem parte de nossa vida, são mesmo necessários, para que o novo tenha espaço ao chegar até nós. Mas não tenho pressa que eles desapareçam – pelo contrário, deixo-os existirem, amadurecerem em mim, enquanto eu, também, amadureço com eles, como se estivesse me preparando para o novo que vai chegar.
Sei que outros lutos virão e vou ter que lidar com a morte várias vezes, ainda. Nunca lidarei da mesma forma. Cada vez será única, porque eu, também, serei única, renovada, amadurecida, mais sensível. Lágrimas virão, em maior ou menor quantidade – nada a ver com a intensidade dos sentimentos, mas tão-somente reflexos do meu interior naquele momento.
Assim, vou vivendo minha vida e, ao mesmo tempo, lidando com a morte.

domingo, 2 de dezembro de 2012

A TI

A ti, dei o que de melhor havia em mim: meu amor, meu carinho, minha sinceridade.

Minhas emoções coloquei todas nas tuas mãos, como se, ao fazer isso, pudesse te fazer  ver como eram intensas e verdadeiras....

Tudo foi rechaçado. Pisaste nas emoções, nos sentimentos.

Quiseste semear pedras em meu coração - de nada adiantou, porque continuo semeando amor, carinho e emoções verdadeiras, intensas.

A ti deixo a saudade do que não foi, o suspiro que prendi, o olhar que se perdeu no horizonte.

Em mim, deixas a lágrima que escorreu, os sonhos derretidos.

Simone de Faria

domingo, 18 de novembro de 2012


VOCÊ

Em meus sonhos, acordada, imaginava se algum dia, em algum lugar, existiria alguém que pudesse, afinal, gostar de mim, me enxergar, me escutar, me tocar, sentindo cada pedaço da minha pele.
Imaginava se eu teria a possibilidade de segurar um rosto nas mãos, alisar bem de leve, olhando nos olhos meigos, contornar com a ponta de meus dedos esse rosto, respirar bem de leve em seu ouvido.
E a cada dia que chegava me perguntava...é hoje ? mas, quando as estrelas apareciam, eu via mais um dia escorregando nos braços amorosos da noite e nenhum braço amoroso ainda me segurava, nenhum rosto era contornado por mim.
Em um desses dias normais, entendi que nada acontece fora do tempo determinado. E essa indefinição, essas surpresas tornam nossa vida mais interessante.
Assim, apenas fiquei vivendo, um dia de cada vez, guardando meu sonho bem no fundo de minha alma, de meu coração. Minhas esperanças se mantinham comigo – não mais me conduzindo, mas apenas caminhando ao meu lado, no mesmo compasso – nem mais rápidas, nem mais lentas.
A vida ia morna, algumas vezes, outras engolfava meu ser, com suas pressas, urgências – novas pessoas, novos planos e eu... eu sendo a mesma...à espera.
Não sabia o que esperava – apenas esperava. Até o dia em que vi você, pela primeira vez. Nesse dia, eu soube a razão de minha espera – esperava por mim. Sempre tive uma necessidade gigantesca de querer me entregar, que querer me dar – mas uma entrega interior, buscando uma alma que eu quisesse.
Sempre precisei desse encontro de almas, de sentir, pulsando em mim, uma vontade de querer estar perto, segurando. Sentir no seu olhar o sol me aquecendo, refletido em seu rosto o brilho da lua.
Quero me agasalhar nos seus braços, encostar minha cabeça no seu peito, calada, sentindo, somente, sua respiração junto com a minha, fechar meus olhos e saber que está comigo, posso tocar seu rosto.
Você consegue matar a saudade que eu sempre tive, sem saber do eu queria e que hoje sei nunca tive. Sinto falta de você. Quero sua mão passando nos meus cabelos, quero sua boca mexendo em resmungos que não entendo. Quero sua impaciência passageira, seu olhar disperso, quero suas dúvidas, seu medos, seus desejos, suas esperanças.
Você que entrou em minha vida – sem pedir licença, tomou espaço dentro de mim, me preencheu, mesmo estando tão longe, mesmo sem me tocar, sem me beijar.
Sonho acordada – agora meu sonho tem cara e corpo, tem nome, sobrenome.Não sei dizer nome do que sinto. Apenas sinto. Uma inundação, uma plenitude. Penso em você e tenho vontade de chorar, não de tristeza, mas de felicidade porque com você, me sinto viva, me sinto inteira, me sinto capaz de sentir algo que não sabia ser capaz de sentir.
Você existe...sempre existiu... mas tão-somente em minha imaginação.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012


TEMPOS DIFERENTES – SERES IGUAIS

 

Quando era adolescente esperava, ansiosa o carteiro chegar. A esperança de receber uma carta de um namorado sempre me acompanhava, diariamente. Alguns dias se passavam, e a carta não chegava. Mas, um dia, lá estava o envelope, com aquela letra tão conhecida, meu nome como destinatária.

Sofregamente, corria pra um lugar tranquilo, isolado, onde pudesse saborear a carta. Abria o envelope, mãos rápidas, coração acelerado, expectativa das palavras que leria. E me deparava com uma única folha, com umas 10 frases, talvez, que muito pouco diziam, mas nessas poucas palavras encontravam-se as “mágicas”  - saudade, te amo, beijo...

Essas 3 palavras isoladas já compensavam a pobreza do texto, porque mesmo que viessem sozinhas já teriam cumprido seu papel de aquecer meu coração. Quando se é jovem, nosso nível de exigência literária fica restrito a umas poucas palavras que representem sentimentos compartilhados ou sonhados. Nada muito rebuscado – somente as 3 palavras bastavam.

A espera pelas cartas se arrastava por dias, o carteiro se tornava o centro de atenção, como se, a simples presença dele, pudesse iluminar dias cinzentos da distância do amado. A angústia dessa separação tornava, talvez, a chegada da carta mais preciosa, mais valiosa.

Havia, nessa época, um lirismo que acompanhava cada momento de espera, de encontro, de reencontro. Os lapsos temporais preenchidos por episódicas cartas ou telefonemas transformavam o “estar juntos” em algo quase mágico – porque eram tempos em que a saudade ardia no peito, havia tempo para vivenciar determinados sentimentos, emoções – boas ou ruins.

Hoje, tempos diferentes. Imediatismo tomando conta de tudo. Mensagens instantâneas jorram em celulares e redes sociais. As palavras “mágicas” foram substituídas por letras ou símbolos – não existe mais o lapso temporal que aguça a expectativa dos reencontros. Tudo está à nossa frente, disponível, bastando apertar algumas teclas, de computador ou celular.

A cibernética acabou com o “tempo” de sentir a saudade. Já estão distante as longas esperas pelo carteiro, a ansiedade em abrir um envelope, o peito apertado pela separação do amado. As janelas, onde olhávamos a rua, seguidamente, esperando a hora do reencontro, - como se olhar frequente tivesse o dom de apressar a chegada – essas janelas acabaram, transformaram-se em “windows”...

Os tempos são diferentes, mas os sentimentos humanos permanecem. Entretanto a voracidade de toda essa modernidade aniquilou o lirismo, o romantismo, a espera, a saudade. Toda essa rapidez em apertar teclas e poder ver o amado através de uma tela de computador, ao invés de facilitar a aproximação, o que fez, de verdade, foi tornar as pessoas satisfeitas com a presença distante.

Não mais valorizam-se o toque de pele, o olhar apaixonado, o respirar no pescoço, as mãos se encontrando, dedos entrelaçados, remexer no cabelo do outro... Tudo episódico, imediato, mas tão frio, tão impessoal, tão despido de sentimentos e emoções fisicamente possívels de serem demonstradas.

Tenho saudades do tempo em que se podia e se sabia sentir saudade.

 

 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012


LEMBRANÇAS

Da infância guardo várias lembranças, mas as que mais ainda estão presentes são os aromas. A percepção olfativa parece impregnada em meu cérebro, em meus sentimentos e todas as vezes em que algo aparece na minha frente que tenha, mesmo que remotamente, um aroma parecido com aqueles, tudo me volta, vivo, como se pudesse quase vivenciar as experiências.
O cheiro da “Maria Fumaça”, um trem que fazia o percurso Rio-Teresópolis... a fumaça que saía da chaminé daquele antigo trem que se arrastava montanha acima, apitando ( até hoje não sei a razão do apito, porque a paisagem, embora verde, era deserta ), esse cheiro entrava nos meus sentidos e ali ficava – na verdade se instalou, porque o guardo comigo.
A viagem, por si só, já era uma grande farra, pra mim, menina de uns 4 ou 5 anos, porque  ia pendurada na janela, com o vento batendo no rosto e trazendo o cheiro da lenha tornavam tudo mágico... e depois, havia a certeza de encontrar Miguel – o velho sinaleiro da estação de Teresópolis – pra quem eu acenava como louca, agitando meus braços e gritando seu nome !! O sorriso que ele abria com toda aquela minha agitação era meu presente de chegada !!
Aromas de lenha queimando me acompanharam ao longo da infância. Na fazenda de minha tia, onde íamos passar férias – para loucura de nossas mães, porque 22 crianças juntas, em um único lugar, leva qualquer um, no mínimo, ao divã de analista...- ali, naquela imensidão de campo, os aromas se misturavam – o cheiro do fogão a lenha, funcionando desde cedo, fervendo o leite, o café sendo coado – no velho coador de pano – o cheiro do curral, com seus cavalos e gado leiteiro, o aroma das selas dos cavalos que cada um segurava, aquele cheiro de couro impregnando nosso olfato, misturado ao suor dos cavalos...
O cheiro da floresta, de verdade, por onde cavalgávamos, desviando de galhos e folhas – nem sempre conseguindo...- o aroma das flores que insistiam em surgir e crescer sem que uma semente houvesse sido plantada por mãos humanas...
Minha primeira bicicleta – vermelha, presente de Natal- aos 4 anos – o cheiro da borracha dos pneus novos,,, da bicicleta, em si, guardo poucas lembranças, a não ser as pedaladas dentro de casa, no quintal, ou nas calçadas das ruas, onde se brincava livremente com as crianças vizinhas. Mas o cheiro da borracha das rodas até hoje me acompanha.
Em outras ocasiões íamos passar férias na Ilha do Governador e ali, numa farmácia muito simples – mas que a meus olhos se transformava em mundo encantado com tantos potes, cremes e óleos – minha mãe comprava óleo Dagele ( não sei se com dois L ) que, além de ter uma cor alaranjada, quase terrosa ( fosse hoje e seria suspeitíssima! ) tinha um aroma todo peculiar !!
Era um encantamento o aroma desse óleo cuja função seria de “proteger” minha pele, mas que pra mim,  trazia, com seu cheiro, maravilhas ao meu olfato. Repetidas vezes me besuntava com aquele líquido viscoso, embora desnecessário, tão somente para acentuar aquele aroma que, mais uma vez, marcou minha infância.
Minhas lembranças de infância, embora triviais, são marcantes em minha vida. Todas muito mais sensoriais que as vividas de verdade, porque penetraram nos meus sentidos e ali se alojaram, sem pedir licença, sem que eu percebesse e se aninharam num recanto remoto da memória, só se mostrando quando, agora adulta, sinto algum aroma parecido.
Mas nunca será parecido com o que sentia antes, porque tudo, absolutamente tudo, era acompanhado de um olhar curioso, da criança que se maravilha com as descobertas que está fazendo do mundo. A percepção do novo é única e, embora situações, aromas, experiências possam se repetir, nada será acompanhado do olhar maravilhado da primeira vez.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

MEU PAI

HOJE QUERO FALAR SOBRE MEU PAI.
AO LONGO DE 38 ANOS TIVE O PRIVILÉGIO DE CONVIVER COM UMA DAS PESSOAS MAIS INCRÍVEIS E EXTRAORDINÁRIAS QUE CONHECI.
21º FILHO DE UMA FAMÍLIA DE 22, DIZIA, RINDO, QUE SEU PRIMEIRO SAPATO NOVO TEVE APÓS OS 18 ANOS DE IDADE. AMAVA LIVROS, MÚSICA CLÁSSICA, MUSEUS, HISTÓRIA, POLÍTICA. DELE HERDEI A PAIXÃO POR TUDO ISSO.
UMA DAS PESSOAS MAIS ÍNTEGRAS QUE CONHECI. HONESTO,...
LEAL, RETIDÃO DE CARÁTER - TUDO ISSO ESTAVA NELE QUE ME PASSOU DE HERANÇA JUNTO COM OS LIVROS, MÚSICA, ETC.
COSTUMO DIZER QUE MEU PAI FOI UMA PESSOA EXTREMAMENTE RELIGIOSA, NO ENTANTO, NUNCA O VI INDO À QUALQUER IGREJA OU TEMPLO, A NÃO SER EM CERIMONIAS ESPECIAIS, COMO CASAMENTOS, ETC.
E O DIGO RELIGIOSO PORQUE, NA INTEGRIDADE DE SUA VIDA, PRATICOU O QUE TODAS AS RELIGIÕES PREGAM: VIVER COM VERDADE, SER HUMANO COM OS OUTROS.
MEU PAI ME ENSINOU QUE, PARA CONVERSAR COM DEUS, POSSO FAZÊ-LO NO SILÊNCIO DE MINHA CASA, ATRAVÉS DE MINHA CONDUTA DIÁRIA DE VIDA.
AGRADEÇO A DEUS POR TER COLOCADO ESSE SER QUE, COM SUA POSTURA, ME ENSINOU QUE, PARA TER UMA VIDA RELIGIOSA, BASTA PRATICÁ-LA NO DIA-A-DIA.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

DE VERDADE.

"PESSOAS NÃO SÃO COISAS NEM BRINQUEDOS.


 SENTIMENTOS HUMANOS SÃO PRECIOSOS DEMAIS PARA SEREM PISADOS.

 NÃO PROCURE DESPERTAR EM ALGUÉM SENTIMENTOS, SE VOCÊ NÃO É CAPAZ DE CORRESPONDER NA MESMA MEDIDA. ISSO SE APLICA A TUDO - AMOR, AMIZADE, CONFIANÇA...

 EMOÇÕES HUMANAS NÃO SÃO MASSA DE MODELAR PARA SEREM "MANIPULADAS" AO SEU BEL PRAZER.

 SE GOSTAR - QUE SEJA DE VERDADE
SE AMAR - QUE SEJA DE VERDADE.
SE SENTIR SAUDADE - QUE SEJA DE VERDADE.
FALE SOMENTE O QUE SENTE E PENSA DE VERDADE.

MAS NÃO APENAS FALE - DEMONSTRE.
LEMBRA- SERES HUMANOS, DESDE QUE O MUNDO EXISTE, SEMPRE PRECISARAM DE CONTATOS HUMANOS PARA SOBREVIVEREM.

CONTATOS DE VERDADE.

VERSOS, POEMAS, TROVAS, POR MAIS LINDOS QUE SEJAM, NÃO SUBSTITUEM UM OLHAR, UM TOQUE DE MÃO, UM ABRAÇO - DE VERDADE.

SEJA DE VERDADE CONVIVENDO, DE VERDADE, COM PESSOAS DE VERDADE."
Simone de Faria
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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

MENINA EDUCADA

Um dia, quando era pequena, ouvi uma frase: "meninas educadas não fazem isso..."

E eu queria, muito, ser uma "menina educada". O que era, não sabia, mas imaginava, na minha ingenuidade infantil, que fosse aquela que recebe sorrisos de aceitação, que recebe elogios, que é querida e bem quista.

Assim, por querer ser uma "menina educada" não cantei ou dancei na chuva, não corri até ficar encharcada de suor, não pulei o muro pra encontrar namorado, não me atirei em aventuras, não fiquei na praia torrando no sol, não dancei até de manhã em boates ou nas ruas, não toquei campainhas e saí correndo, não passei trotes por telefone, não subi em árvores pra pegar mangas ou goiabas, não matei aula pra ir ao cinema escondida...

Eu queria ser uma "menina educada".

O tempo passou e percebi que ninguém, jamais, deu a mínima para todas as transgressões que deixei de fazer - fazendo-as ou não, a vida continuou no seu ritmo, morno, dolente.

Deixei de viver a vida, de aproveitá-la em seus momentos mágicos. Deixei de viver amores impossíveis, deixei de me entregar a coisas deliciosas, deixei de chorar ou gargalhar em momentos extremos.

"Meninas educadas" não demonstram emoções, não choram, não riem - apenas sorriem - não se entregam a paixões voluptuosas, são amorfas, insossas, inodoras.

Apenas passam pela vida, sem na verdade viver.

O mundo não mudou porque tentei ser uma "menina educada". O mundo não perderia nada se não o fosse.

Quem perdeu, na verdade, fui eu - que me neguei o direito de viver a vida em sua plenitude, por querer ser uma "menina educada" ao invés de querer ser uma PESSOA.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

SE EU PUDESSE RECOMEÇAR .....

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

SENTIMENTOS

na sombra da árvore
dentro de um peito machucado
um coração sofrido chora
lamentos, desesperanças.
o vento balança os ramos
indiferente àquela dor
que a seu olhar
indiferente fica.
gravetos arrastados,
suaves, pousam no colo
da mulher de olhos fechados
na dor, imersa.
sofrimento gritando em seu peito.
arrancadas as últimas
gotas de vida.
os ramos rendados
mexem suas folhas
mantos suaves sobre a fronte
sofrida, contorcida,
soluçante, pulsante.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

EU QUERIA SER POETA II

EU QUERIA SER POETA II
Eu queria ser poeta
versejando nessa vida
falando de noite sofrida
de amor e de dor
mas também de cor
rimar flor e sabor
pra não falar do seu odor
quero rima diferente
ser um pouco impertinente
todo bicho, toda gente
sabe que a vida
pra ser bem vivida
nem sempre rima é possível
porque amor rima com dor
despeito com respeito
felicidade com deslealdade
nem sempre é rima bonita
que completa um ser, o anima
mais fácil falar de beleza
do que de incerteza
assim fico quieta no  recanto
pra não perder meu canto
derrubando o encanto
de viver um grande amor
que não fale só de dor...


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

LE SOUFFLE DE L'AMOUR

pas à la recherche du temps perdu,
pas à la recherche de ma jeunesse...
mais à la recherche de moi même, de mon âme
des mes rêves, pourtant perdus
je sais que sont encore là,
dans mon coeur
et peuvent être réveillés
par le souffle de l'amour.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

QUEM SOU EU ?

Mulher alegre, risonha? ou triste ? com que armas ( ? ) me protejo ? como lido com as coisas cotidianas ?
Questionamentos me assolam todo tempo... emoções trovejando na alma, mostrando que tempestades existem e, a qualquer momento, podem desabar sobre mim...
E se não tenho abrigo? se não encontro alguma porta aberta? onde me colocar para não ser assolada por essas tempestades?
Desde sempre me mantenho meio escondida, olhando tudo e todos pelos vãos das portas, como se não tivesse sido convidada para a “festa”, para a vida... como eterna intrusa deslocada, um tanto ou quanto “gauche”, querendo entrar mas sem a certeza de ser bem vinda...
Como  a criança amedrontada que vive dentro de mim, insistindo em aparecer, a todo instante, gritando seus medos, inseguranças, jogando para o lado – quase extinguindo – a mulher adulta que se faz de forte ( sem ser, na verdade...)
Criança machucada, doída, dolorida, de alma cinza que quando menos espero aparece inteira, atirando na cara da mulher que ela ( a criança) é quem está certa... não existe merecimento, as alegrias não são pra você...ela insiste em dizer...
E, mais uma vez, atira na cara da mulher forte e alegre as necessidades angustiadas dessa criança. Aponta o dedo e diz – “não disse? você não me ouve, não presta atenção no que eu digo! eu sei que você não foi convidada pra essa festa... mas, teimosa, você insiste em ir, em participar... agora fica aí, olhando pelas frestas da porta, como eu sempre estive...”
De nada adianta a mulher querer ficar no meio da festa, no meio da vida, porque de repente ela percebe que ali não é seu lugar, que, na verdade, ali nunca foi seu lugar – não existe espaço pra ela, nessa festa que é a vida...
Os sorrisos que lhe dão não são de verdade, as conversas que ouve não trazem verdade, as emoções que ela sente ficam ali, solitárias... Sua única companhia é a criança de alma cinza, que chega e conversa com ela, tentando fazer com que ela entenda que precisa partir, que ali não é seu lugar...
A criança conhece e entende seu espanto diante da vida, das pessoas, conhece suas emoções – ambas partilham os mesmos medos, sonhos, ansiedades, vontade de pertencer a algo, a alguém, de integrar-se, sendo acolhida...
Mas a mulher, teimosa, continua tentando sorrir, acreditar... fica se questionando sobre tudo, todos e não encontra respostas, porque a sensação de estar deslocada a acompanha e reconhecer tudo isso rasga as entranhas, dilacera seu interior...
Ser invisível na multidão corrói a alma, esgota energias, rasga sonhos e fantasias... construir algo ? pra quê? e a criança chega e se apodera do interior, com suas névoas, suas sombras, trazendo neblina quando a mulher busca dias ensolarados e noites estreladas...
Quem sou eu, afinal?

domingo, 4 de dezembro de 2011

EU, SIMPLESMENTE.

Sou protagonista de minha história; não sou platéia, nem mesmo coadjuvante.
Os erros que cometi - são erros meus
Os acertos que alcancei - são acertos meus
A culpa pelos erros, é minha culpa
O mérito pelos acertos, é meu mérito
Se conheço os limites de minha vida ? NÃO !
Felizmente, porque assim não me acomodo e continuo me procurando, me buscando, puxando véus, descobrindo recantos, mais ou menos distantes, mais ou menos escondidos.
Algumas surpresas - boas ou ruins - mas olhadas e recebidas de maneira a me conhecer cada vez mais.
Cada dia sou reapresentada a mim mesma, de vez em quando me alegrando, outras me  entristecendo..mas tudo é conhecimento interior precioso que sempre enriquece.
Eterna aprendiz de mim mesma.

sábado, 27 de agosto de 2011

AQUARELAS

Colori minha vida
Mostrei cores em esplendor
Esperava comovida
Que curasses minha dor

Ocultei lágrimas e dores
Nada de expor sofrimento
Precisavas me ver feliz
Pra conseguir teu sentimento

Fiz aquarelas, fiz pintura
Fiz graça na prosa e verso
Até mesmo caricatura
Pra iluminar teu universo

Um dia  afinal me viste
Alegre, colorida, risonha
Nada de alma triste
Não queria ser enfadonha

Mas nem assim consegui
Olhaste e teu olho não brilhou
Só eu sei o quanto sofri
Meu sol se apagou

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

LEVANTAR

Tudo à volta está escuro. Lentamente abro os olhos e nada enxergo, ainda atordoada. Lembro de luzes piscando nos meus olhos, passando corridas, lembro de vozes gritando, apavoradas, mas as sinto muito longe, não entendo o que dizem....apenas sinto a urgência das palavras.
Abro os olhos, escuro total. Nenhum som, somente minha respiração. Tento me mexer, as dores físicas de imediato surgem, gritando em meu corpo, me impossibilitando os movimentos. Aos poucos, meus olhos vão se acostumando com a escuridão e, muito devagar, começo a mexer meu corpo.
Primeiro os dedos, em seguida as mãos – tudo muito lento, muito dolorido – vez por outra fecho os olhos, como que para me ajudar a suportar a dor dos movimentos... Não sei onde estou, o que tenho, apenas a escuridão me envolve e a dor toma conta do meu corpo.
Pouco a pouco consigo movimentar todo meu corpo, ainda exausto e consumido pela dor...uma estranha dormência me assalta, enquanto minha cabeça tenta assimilar tudo que acontece...nada compreendo, apenas vivo as sensações físicas de dor excruciante e de absoluta escuridão.
Por fim, percebo que estou no fundo de um poço.. .paredes gigantescas à minha volta, de pedra, sólida, chão pegajoso e úmido abaixo do meu corpo deitado, esfriando ainda mais meu interior... Vou levantando os olhos e enxergo, longe, muito longe, uma réstia de luz, um pequeno rasgo que não iluminada até onde estou... Pouco a pouco começo e me movimentar, segurando nas paredes, tateando, buscando vãos onde colocar minhas mãos, ainda lutando contra a dor absurda que consome meu corpo...
Tenho que subir...eu sei...preciso...vou conseguir?

quinta-feira, 30 de junho de 2011

LIBERDADE

Você se aproximou e me olhou, de forma curiosa, dando voltas em torno de mim. Eu olhei pra você com medo, muito medo. Já sofri muito, fui machucado, ferido e então via você perto de mim... não sabia se iria me machucar mais, se iria me ferir mais... meu coração batia acelerado, estava tremendo de medo, olhos assustados...
Quando sua mão tocou em mim, pela primeira vez, ela estava morna, macia, me segurava com cuidado – ouvi sua voz falando comigo, sons doces, suaves e senti um pouco de segurança....não muita, porque tantos machucados, tantas feridas sofridas, me fizeram ficar arredio, desconfiado, temendo tudo e todos...
Senti sua mãos mornas cuidando de meus machucados – no princípio doía – eu demonstrava isso, choramingava – mas sua voz me acalmava, suas palavras doces faziam meu coração bater mais tranqüilo...e aos poucos, minhas feridas físicas foram curando...
Ainda ficava com um pouco de medo quando chegava perto de mim, eu confesso... chame-me ingrato, desconfiado, mal agradecido, mas tente entender,,,tantas foram as feridas que sofri, por pessoas iguais a você que, mesmo sem querer, demorei a confiar em você...
Hoje estou curado... fecharam minhas feridas, meus machucados e aprendi a confiar em você. Hoje sei que não representa ameaça, pelo contrário, é aquele que me acalma, me segura com mãos mornas e suaves e me cura...
Todo esse tempo estive aqui, olhando você passar, de um lado para outro – via seus movimentos – às vezes nem se lembrava que estava ali, mas nunca perdi nenhuma das suas idas e vindas... Comecei a me habituar com seus horários de chegar, sabia que viria ver minhas feridas, quando ouvia sua voz – voz sempre doce, calma...
Hoje fez uma coisa que nunca tinha feito antes...depois de cuidar de meus machucados, deixou a porta da gaiola aberta... fiquei parado, olhando, sem entender direito o que aquilo significava... a porta aberta me permitia partir, abrir de novo minhas asas, agora curadas por você, me aventurar de novo pelo mundo, desfrutando da natureza com suas cores e barulhos...
Olhei a porta aberta e entendi que estava livre pra partir... agora que você me curou, não mais ia me manter na gaiola...afinal, nasci pra voar, ser livre... e olhando aquela porta aberta entendi que liberdade, pra mim, era ficar na gaiola, podendo voar por dentro da sua casa, pousar no seu ombro a hora que quisesse...porque ali, perto de você, encontrei mãos mornas e suaves, voz calma, presença amiga, nada perigosa...
Escolhi ficar na gaiola porque nela eu seria livre, livre pra viver sem medo, sem mais coração acelerado, sem ameaças de ferimentos ou machucados...liberdade não é ter espaço, muito espaço...liberdade é ter paz, segurança...
Assim, meu amigo, escolhi ficar perto de você, ficar na gaiola porque somente nela e com você eu pude e posso viver em liberdade...